sim, eu quero compartilhar esses textos com alguém. não, eu não quero falar sobre isso.

Medicina, lei, negócios e engenharia são ocupações nobres para manter a vida. Mas poesia, beleza, romance e amor são razões para ficar vivo
[sociedade dos poetas mortos, 1989]



sexta-feira, 19 de março de 2021

estou me sufocando (em minha próprias palavras)

Sua garganta apenas se fechava com o passar do tempo. Numa tentativa de abrí-la, ela ria. A risada cortava suas entranhas com a maestria de um esgrima. Hemorragias internas se formavam devido aos cortes, porem a garganta continuava lá: impenetrável. Uma muralha que separava seu coração da boca, seus sentimentos da sua razão.  
Quem a via, imaginava que a razão era o uso de entorpecentes e não estava lá tão errado. A mulher - ou o que restou dela - se intoxicava diariamente com seu próprio sangue, que estava repleto de palavras. Estas não tinham como sair e se multiplicavam como um parasita, sugando a força vital e sobrevivendo por cima de seu hospedeiro.
Outra gargalhada intercalada de gritos de dor. Os médicos deviam silenciá-la e a agulha necessária para isso era tão afiada quanto sua espada interna, e o líquido inserido por ela estava contido com mais palavra. Palavras que nunca tinham a chance de sair. E que quando conseguiam, eram incompreensíveis. Queriam tanto calá-la que a fizeram esquecê-se de como falar. Contudo, não podiam fazê-la esquecer-se de pensar.
Quando seu corpo se tornou imóvel, as cores surgiram, e se tornaram formas, que formaram traços, que traçaram a mesma imagem de sempre. Ela nem sabia que sua visão estava turva até poder ver direito.

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