Quem a via, imaginava que a razão era o uso de entorpecentes e não estava lá tão errado. A mulher - ou o que restou dela - se intoxicava diariamente com seu próprio sangue, que estava repleto de palavras. Estas não tinham como sair e se multiplicavam como um parasita, sugando a força vital e sobrevivendo por cima de seu hospedeiro.
Outra gargalhada intercalada de gritos de dor. Os médicos deviam silenciá-la e a agulha necessária para isso era tão afiada quanto sua espada interna, e o líquido inserido por ela estava contido com mais palavra. Palavras que nunca tinham a chance de sair. E que quando conseguiam, eram incompreensíveis. Queriam tanto calá-la que a fizeram esquecê-se de como falar. Contudo, não podiam fazê-la esquecer-se de pensar.
Quando seu corpo se tornou imóvel, as cores surgiram, e se tornaram formas, que formaram traços, que traçaram a mesma imagem de sempre. Ela nem sabia que sua visão estava turva até poder ver direito.
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