sim, eu quero compartilhar esses textos com alguém. não, eu não quero falar sobre isso.

Medicina, lei, negócios e engenharia são ocupações nobres para manter a vida. Mas poesia, beleza, romance e amor são razões para ficar vivo
[sociedade dos poetas mortos, 1989]



sexta-feira, 19 de março de 2021

estou me sufocando (em minha próprias palavras)

Sua garganta apenas se fechava com o passar do tempo. Numa tentativa de abrí-la, ela ria. A risada cortava suas entranhas com a maestria de um esgrima. Hemorragias internas se formavam devido aos cortes, porem a garganta continuava lá: impenetrável. Uma muralha que separava seu coração da boca, seus sentimentos da sua razão.  
Quem a via, imaginava que a razão era o uso de entorpecentes e não estava lá tão errado. A mulher - ou o que restou dela - se intoxicava diariamente com seu próprio sangue, que estava repleto de palavras. Estas não tinham como sair e se multiplicavam como um parasita, sugando a força vital e sobrevivendo por cima de seu hospedeiro.
Outra gargalhada intercalada de gritos de dor. Os médicos deviam silenciá-la e a agulha necessária para isso era tão afiada quanto sua espada interna, e o líquido inserido por ela estava contido com mais palavra. Palavras que nunca tinham a chance de sair. E que quando conseguiam, eram incompreensíveis. Queriam tanto calá-la que a fizeram esquecê-se de como falar. Contudo, não podiam fazê-la esquecer-se de pensar.
Quando seu corpo se tornou imóvel, as cores surgiram, e se tornaram formas, que formaram traços, que traçaram a mesma imagem de sempre. Ela nem sabia que sua visão estava turva até poder ver direito.
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domingo, 7 de março de 2021

prólogo que de fato foi escrito

Não era para ser um romance. Talvez uma comédia, ação ou quem sabe terror. Menos um romance. Os arquétipos eram favoráveis a esse desejo, tal como o cenário. Entretanto, não havia um autor para guiar a história.
A caneta, ao léu, foi parar nas mãos de algum descendente de Shakespeare ou Jose de Alencar, não ha como saber ao certo. O ponto é que os personagens estavam ferrados. No instante em que a tinta manchou o papel, eles se apaixonaram.
Não seria tao ruim, seria apenas chato. O problema de fato começou quando o autor  teve seu coração partido.
É o que eu gosto de acreditar.
Talvez se eu escreva a nossa história outra vez, alguma coisa dê certo. Não tenho os poderes necessários para mudar o curso das coisas, alterar o passado ou o futuro. Vou apenas lhe mostrar o meu lado e tentar descobrir o seu.
Portanto, será um romance.
Porque eu estou apaixonada por você.
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terça-feira, 2 de março de 2021

poema para mostrar na terapia

AVISO DE GATILHO:  ASSÉDIO


Não quero mais escrever romances.

Não quero mais que me toquem. 

Por favor, não olhe para mim também.

Dizem que nas palavras há exagero. 

Vou usar poucas então. 

Quero ser honesta. 

Quero ver se alguém se identifica. 

Quis chorar e me esconder. 

(Sempre choro e me escondo) 
As pernas ficaram bambas e se fecharam uma contra a outra.
O peito se fechou atrás dos braços. 
Não é sobre homens.
É sobre dedos, sobre bocas e sobre um vazio.
Sobre a náusea, sobre o arrepio. 
Sobre a mão forçada sobre a minha.
O instinto em fechar os olhos, jogar a cabeça para trás.
Não é um pedido.
Nunca pedi.
Mas por favor, não vá embora.
Deve ter algo que posso lhe oferecer - não meu coração, mas quem sabe as minhas palavras.
Fica.
Me abraça, deixa eu deitar no seu peito.
Podemos fazer um trato: você não me machuca, eu não te machuco.
Mas não me faça escrever um romance.
Eles doem.
Eu sei que é uma mentira, eu sei que é.
Todos eles sempre foram.
Agora, se importa de ir embora?
Preciso ficar sozinha.
Me esconder e chorar.
Eu sei que você não vai voltar.
Não te culpo.
Nem me culpo.
Pessoas são nojentas, não deveriam ter que interagir.
 
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sábado, 27 de fevereiro de 2021

sobre a incoerência entre eu e a minha flor favorita

 A Rosa é uma planta celebrada através dos séculos, o símbolo da paixão e da adoração, considerada a mais antiga. Conhecida por seu aroma, suas cores e sua beleza, não merecia nomear aquela garota. A flor que mais se assemelha a ela seria Beladona. A ingestão de seu fruto causa efeito psicoativo, delírio. A ingestão de sua folha, a morte.

Seus princípios tóxicos oscilavam entre o veneno e o medicamento.

Ela oscilava entre o veneno e o medicamento.

Estava cansada de se envenenar.

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domingo, 7 de fevereiro de 2021

prólogo de um livro que nunca foi escrito

 Fazem quase 11 meses que eu te vi pela primeira vez. Posso dizer, com um pouco da licença poética que me é permitida, que você está ligado ao início do meu 2020. Assim como num ano novo, você apareceu na minha porta como fogos de artifício e músicas de verão (poderia fazer mais uma analogia ao fato da sua roupa ser branca, mas até eu tenho meus limites de clichê). Desses onze meses, cinco foram poesia. Os outros quatro mais me parecem com um papel de rascunho amassado. Poderia escrever vários diálogos com as nossas conversas que ainda me recordo de cor(ação), ou então uma distopia com os as datas que se destacaram – acredite eu me lembro de tudo.

Já lhe disse o quanto tenho minhas dúvidas sobre o passado. Seria melhor não ter os momentos bons e viver na obliviedade ou as memórias, se colocadas numa balança, pesam mais do que a saudade? Bom, não teria como tirar essa prova pois para isso seria necessário separá-las e, acredite, há muito que tento fazê-lo. Fato é que (in/felizmente) não há forma de mudar o que já se foi, nem aquilo que não chegou a ser.
Não sou capaz de colocar tudo em palavras, e nem gostaria se conseguisse. As coisas que escrevo sobre ti acabam saindo mais melancólicas do que são visadas, não fazendo jus ao que foram de verdade. Gostaria de poder fazer aquela divisão que mencionei, poder eternizar nossos momentos no papel e guardar para sempre a lembrança do seu corpo esquentando o meu.

Fazem quase 11 meses que eu te vi pela primeira vez.
Te conheci no dia 10 de fevereiro. Conheci teus lábios no dia 20.
Te entreguei meu corpo no dia 15 de maio. Nunca tive a chance de fazer o mesmo com o meu coração.

Ps. Alguns anos atrás escrevi um verso apenas pela estética dele, e agora ele então fez sentido.
“Você é o meu pretérito mais-que-perfeito que, de tão perfeito, nem chegou a existir”
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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

anotações sobre nossas anotações

 

Meus dedos traçam sua assinatura enquanto eu me lembro de quando você costumava me guiar como uma caneta e me controlar com suas mãos, formando as palavras e imagens que você queria. É cômico pensar que hoje eu invejo até um pedaço de papel por ser marcado por você, como eu reconheço sua letra mesmo com a página virada porque esse registro foi a única coisa que me restou de você. 


Eu sigo escrevendo textos e versos e você assina folha atrás de folha, meus capítulos perdem os diálogos e imergem em memórias, o espaçamento maior a cada paragrafo. 


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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Se algum dia você ler uma das coisas que eu escrevi sobre você,

Espero que não pense que eu me apaixonei,

Espero que não suponha que eu passei horas pensando em você

E pensando em seu rosto antes de dormir.


Se por acaso, você tropeçar nas minhas palavras,

Quero que saiba que elas são uma constante lembrança que eu errei.


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