sim, eu quero compartilhar esses textos com alguém. não, eu não quero falar sobre isso.

Medicina, lei, negócios e engenharia são ocupações nobres para manter a vida. Mas poesia, beleza, romance e amor são razões para ficar vivo
[sociedade dos poetas mortos, 1989]



terça-feira, 2 de março de 2021

poema para mostrar na terapia

AVISO DE GATILHO:  ASSÉDIO


Não quero mais escrever romances.

Não quero mais que me toquem. 

Por favor, não olhe para mim também.

Dizem que nas palavras há exagero. 

Vou usar poucas então. 

Quero ser honesta. 

Quero ver se alguém se identifica. 

Quis chorar e me esconder. 

(Sempre choro e me escondo) 
As pernas ficaram bambas e se fecharam uma contra a outra.
O peito se fechou atrás dos braços. 
Não é sobre homens.
É sobre dedos, sobre bocas e sobre um vazio.
Sobre a náusea, sobre o arrepio. 
Sobre a mão forçada sobre a minha.
O instinto em fechar os olhos, jogar a cabeça para trás.
Não é um pedido.
Nunca pedi.
Mas por favor, não vá embora.
Deve ter algo que posso lhe oferecer - não meu coração, mas quem sabe as minhas palavras.
Fica.
Me abraça, deixa eu deitar no seu peito.
Podemos fazer um trato: você não me machuca, eu não te machuco.
Mas não me faça escrever um romance.
Eles doem.
Eu sei que é uma mentira, eu sei que é.
Todos eles sempre foram.
Agora, se importa de ir embora?
Preciso ficar sozinha.
Me esconder e chorar.
Eu sei que você não vai voltar.
Não te culpo.
Nem me culpo.
Pessoas são nojentas, não deveriam ter que interagir.
 

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